Que pensamentos teus nos visitaram,
na derradeira hora, instante exato
em que lembranças tuas, controversos sentimentos,
me chegaram?
Que chamado te adormeceu,
antes de vencermos as circunstâncias,
antes da condição perfeita que, imprevidente,
ainda esperava para te encontrar?
O que faço agora,
com esta percepção assustada de que não mais estás,
com os escritos que deixei de te mostrar,
as músicas que voltaria a tocar para ti,
os pequenos presentes que te preparei?
Tantas conversas curtas, esparsas, à distância,
lembranças hoje doloridas,
migalhas que te faziam tão feliz...
O que faço agora,
sem a tua preocupação eterna,
as tuas orações por todos nós,
as estórias tuas que deixei de ouvir?
Na memória cansada, mil vezes percorrida,
no turbilhão do tempo,
permanecem cravados os momentos metálicos
de perscrutar teus imensos olhos tranqüilos, cerrados,
a ignorar minha presença, há tanto ausente,
de deixar meu coração conversar com o teu,
tocar tuas mãos e fronte pela última vez,
e conduzir tua nave abandonada, envolta
em vestes singelas como foi tua vida.
Ah, que saudade não aplacada te deixei levar
e me deixei ficar,
por apenas mais um encontro
que não houve...
(In Memoriam - Odette Cyrino - 26.out.19 30 – 08.fev.2009)