Na janela, quadro transparente e difuso,
fluem imagens eloquentes, silenciosas.
O vento e a água, salpicando brilhos
nas memórias distorcidas, redesenham no vidro
as histórias que já foram, ou seriam,
meu próprio reflexo no painel enevoado.
Somente a respiração se move,
os olhos viajam no tempo adormecido,
contemplando cenas mutantes, esmaecidas,
contraditoriamente vivas.
As primeiras luzes da rua despertam o tempo,
atravessam meu quadro ilusório, a penumbra,
devolvendo as histórias para dentro de mim.
Anoiteceu, chuva fina lá fora,
ninguém passando, partindo ou chegando,
nem eu, nem você, nem nós.