Pelos conceitos e valores que ensinamos aos
jovens,
agora sem qualquer serventia.
Foram-se as chances para pessoas íntegras,
neste desvirtuado país.
Pela planejada desvalorização vexatória
dos que exercem por vocação os sacerdócios
do ensino,
da pesquisa, da medicina, da segurança e da
justiça.
Pelas cartilhas e acessórios de devassidão
e destruição da inocência,
traiçoeiramente inseridos em nossas escolas
abandonadas, drogadas.
Pela degeneração cultural estimulada,
sacramentada
na morte da beleza e significância da arte,
vitória de grunhidos, palavras
vazias, apologias obscuras,
bundas à mostra e atos explícitos a garantir
sucesso rápido,
no imenso reality show deste "país do tudo
pode",
cortinas de fumaça em alta-definição.
Pela proliferação das religiões
engarrafadas,
enxertos nas esperanças que o meu país
mutilou,
e de suas vertentes engajadas na miséria
pasteurizada
que preserva o vínculo.
Pela disseminação do confronto, do conflito,
do preconceito,
da discriminação pelas ditaduras de minorias,
diversidade transformando em crime a
normalidade.
Pelo rótulo "elite" a segregar e
demonizar
os que produzem, empreendem e pensam
criticamente,
sem abaixar cabeça ou calar palavra perante
a força,
sem aceitar como pai um Estado Podre
que quer também suas almas.
Pela esmola oficial agrilhoando a miséria,
perpetuando a ignorância e o medo de perder
tão pouco,
anestesiando a consciência, na entrega
do voto.
Pela facinorosa confraria encarapitada no
poder,
diariamente reunida em imorais banquetes
de irrestrita indulgência recíproca.
Pelo metódico confisco espoliativo
de metade do nosso trabalho,
ao sustento da coroa diabocrata, sua corte,
seu séquito de agiotas institucionais.
Pela entrega dos territórios mais preciosos
do planeta
às raposas internacionais,
pastoreio de rebanhos corrompidos à troca de
badulaques.
Pela humilhação contida nos atos e
omissões perpetrados em nosso nome,
na guarida concedida a criaturas malignas,
condenadas,
no apreço declarado a ignóbeis títeres-ditadores,
no dar de ombros à opressão de outros povos,
nas manobras sujas da proteção ao clã.
Pelo sorriso sempre presente,
simulacro de hiena sarcástica,
precedendo palavrório arrogante
de quem jamais trabalhou realmente.
Pela intolerável distorção da verdade,
das bocas de bate-estacas nazi-orquestradas,
a recontar e recontar história quase limpa
à memória fraca dos que ignoram tanta
sujeira.
Depois de tanto construirmos e
consertarmos nesta vida,
ao constatarmos finalmente que o melhor já
foi destruído,
resta-nos ainda demandar à classe política
brasileira
(expoentes atuais e passados)
indenização pelo roubo de todos os anos
material, intelectual e espiritualmente
felizes
que mereceríamos ter vivido.
O tempo não retrocede.
Não há como recuperá-los.
10/07/2009 - rev. out/2012