Mais a visão se aprofunda,
mais estrelas se percebem,
na escuridão...

4 de outubro de 2012

Demanda de indenização



Pelos conceitos e valores que ensinamos aos jovens,
agora sem qualquer serventia.
Foram-se as chances para pessoas íntegras,
neste desvirtuado país.

Pela planejada desvalorização vexatória
dos que exercem por vocação os sacerdócios do ensino,
da pesquisa, da medicina, da segurança e da justiça.

Pelas cartilhas e acessórios de devassidão
e destruição da inocência,
traiçoeiramente inseridos em nossas escolas
abandonadas, drogadas.

Pela degeneração cultural estimulada,
 sacramentada na morte da beleza e significância da arte,
vitória de grunhidos, palavras vazias, apologias obscuras,
bundas à mostra e atos explícitos a garantir sucesso rápido,
no imenso reality show deste "país do tudo pode",
cortinas de fumaça em alta-definição.

Pela proliferação das religiões engarrafadas,
enxertos nas esperanças que o meu país mutilou,
e de suas vertentes engajadas na miséria pasteurizada
que preserva o vínculo.

Pela disseminação do confronto, do conflito, do preconceito,
da discriminação pelas ditaduras de minorias,
diversidade transformando em crime a normalidade.

Pelo rótulo "elite" a segregar e demonizar
os que  produzem, empreendem e pensam criticamente,
sem abaixar cabeça ou calar palavra perante a força,
sem aceitar como pai um Estado Podre 
que quer também suas almas.

Pela esmola oficial agrilhoando a miséria,
perpetuando a ignorância e o medo de perder tão pouco,  
anestesiando a consciência, na entrega do voto.

Pela facinorosa confraria encarapitada no poder,
diariamente reunida em imorais banquetes
de irrestrita indulgência recíproca.

Pelo metódico confisco espoliativo
de metade do nosso trabalho,
ao sustento da coroa diabocrata, sua corte,  
seu séquito de agiotas institucionais.

Pela entrega dos territórios mais preciosos do planeta
às raposas internacionais,
pastoreio de rebanhos corrompidos à troca de badulaques.

Pela humilhação contida nos atos e omissões perpetrados em nosso nome,
na guarida concedida a criaturas malignas, condenadas,
no apreço declarado a ignóbeis títeres-ditadores,
no dar de ombros à opressão de outros povos,
nas manobras sujas da proteção ao clã.

Pelo sorriso sempre presente,
simulacro de hiena sarcástica,
precedendo palavrório arrogante
de quem jamais trabalhou realmente.

Pela intolerável distorção da verdade, 
das bocas de bate-estacas nazi-orquestradas,
a recontar e recontar história quase limpa
à memória fraca dos que ignoram tanta sujeira.

Depois de tanto construirmos e consertarmos nesta vida,
ao constatarmos finalmente que o melhor já foi destruído,
resta-nos ainda demandar à classe política brasileira
(expoentes atuais e passados)
indenização pelo roubo de todos os anos
material, intelectual e espiritualmente felizes
que mereceríamos ter vivido.
O tempo não retrocede.
Não há como recuperá-los.

10/07/2009 - rev. out/2012