Nestes olhos cintila minha alma,
alma de todos os abandonados.
Ah, quantas caminhadas
intermináveis, guiadas pelos instintos.
Quantas vezes andei em círculos
e quantas outras cheguei ao destino,
apenas para perceber que o destino
já não estava lá.
Cansaço,
sem referência no mundo,
sem mais saber quem sou,
sem ter para quem voltar,
sem vontade de prosseguir,
aqui me deixei ficar.
Qualquer olhar me supre,
qualquer afago me conforta.
Só abraça minha solidão
a lembrança de haver pertencido,
locais diluídos no espaço,
pessoas diluídas no tempo.
Imensa lembrança viva, coletiva,
porque somos tantas,
tantas vidas suspensas,
compartilhando a mesma alma
abandonada.
Só acalenta minha chama
a esperança de poder ser
tudo o que esperavas de mim,
melhor do que jamais fui,
livre das culpas que devo ter,
outra chance, nova história
de guardar as tuas ausências,
como se meu tempo fosse infinito,
e te receber com olhos confiantes,
sem lágrimas.
Queria tê-las, agora.
13.02.2003