Da saudável bunda, atributo anatômico,
à legião de pessoas-bundas,
anônimas, celebridades, ou wannabes.
Hora a hora, dia a dia, semana a semana,
TVs, jornais, revistas, outdoors, displays
fabricam, promovem, exploram,
despejam sobre nós
bundas de toda sorte,
a qualquer pretexto.
Não mais pensar, decidir, transitar,
comer, descansar, espairecer, sorrir ou chorar,
a salvo de invasivas, inconvenientes,
onipresentes bundas.
A maior, a melhor, a mais ousada ou bizarra bunda
da festa, do festival, do país do reality show.
Gananciosas personas-bundas de pessoas irreais.
Bundas, bundas, premiadas bundas.
Afamadas, reverenciadas bundas.
Ora bundas!
Reconhecimento imaterial,
comiseração eventual,
aos que educam, escrevem, pesquisam,
socorrem, resgatam, curam, protegem,
a todos os que pensam, constroem,
fazem acontecer.
Vivam à míngua, morram por suas lutas,
conquanto não queiram ser
apenas bundas.
Às crianças,
menos livros, menos inocência,
mais futilidade, ganância, vaidade e espelhos,
que difíceis são os caminhos do pensamento,
e mister se faz cultivar
apenas bundas.
janeiro/2012