Da forja
elementar, nos corações das estrelas,
hidrogênio, hélio,
carbono, nitrogênio, luz,
proto-vida viajante,
semeada em bilhões de formas,
incontáveis histórias
vivas, de miserável finitude,
que o
espaço-tempo sabiamente isolou,
por todos os recantos
do Universo.
Tantas manifestações,
neste recanto
viajante,
humilde nave abençoada.
Peixe
Aprendendo o
mar.
Grupos imensos,
a nadar.
Disparar das profundezas,
como flecha
rumo ao sol,
um chamado na
superfície.
Adormecer tranqüilo,
no aconchego
das águas.
Gaivota
Aprendendo o vôo.
Pairar feliz sobre
o mar,
atravessar nuvens
às cegas,
mergulhar,
reencontrar as águas.
Vencer a
fome,
meditar sobre
as rochas.
Adormecer ao
sol.
Falcão
Dominando o
céu.
Visão sagaz,
vôo fatal.
Prazer das
distâncias vencidas,
descobertas, amor
à liberdade,
valor maior da
minha vida.
Adormecer na
tempestade.
Lince
Aprendendo a
estepe.
Lutar,
prevalecer, procriar,
caçar,
alimentar, proteger,
guardar a
planície árida,
brincar, liderar,
ensinar.
Adormecer apenas,
no cansaço da
missão.
Cavalo
Aprendendo a
servir.
Combater,
combater,
armaduras
reluzentes,
sangrentas
batalhas,
mortais
duelos.
Sentir no
coração
a justeza das
causas.
Vencer quase
todas.
Adormecer em
luta.
Cão
Aprendendo o
convívio.
Vagar, descobrir
segredos,
sobreviver de
restos,
conhecer a
amizade,
ser fiel,
defender.
Descansar à luz
da lua,
às margens de
um rio.
Adormecer de
velhice,
sob o afago das
crianças
das ruas.
Sapiens
Destilando essência.
Nascer entre músicos
e poetas,
humildes almas
trovadoras.
Correr mundo,
muito cedo,
a buscar palavra
e melodia
perfeitas.
Adormecer jovem,
sem
encontrar.
Retornando e
retornando.
Sublimar presságios
e marcas imemoriais
de céus,
mergulhos, reencontros e fome,
distâncias
vencidas e descobertas,
amor à
liberdade e tempestade,
cansaço da
missão e coração,
duelos, batalhas
e justeza,
humildade,
segredos e amizade,
fidelidade e afago
de crianças,
palavra e melodia
imperfeitas.
Perseguir o tempo,
querendo ser
músico, médico, escritor,
engenheiro, sonhador,
ninguém.
Aprender a ser
nada,
caminho do tudo.
Criar engenhos
virtuais,
universos
lógicos, nonsense,
transportando
pensamento e alma
ao momento certo
de finalmente
voltar e aportar.
29.07.2000