Mais a visão se aprofunda,
mais estrelas se percebem,
na escuridão...

29 de maio de 2012

Vim


Da forja elementar, nos corações das estrelas,
hidrogênio, hélio, carbono, nitrogênio, luz,
proto-vida viajante, semeada em bilhões de formas,
incontáveis histórias vivas, de miserável finitude,
que o espaço-tempo sabiamente isolou,
por todos os recantos do Universo.

Tantas manifestações,
neste recanto viajante,
humilde nave abençoada.

Peixe
Aprendendo o mar.
Grupos imensos, a nadar.
Disparar das profundezas,
como flecha rumo ao sol,
um chamado na superfície.
Adormecer tranqüilo,
no aconchego das águas.

Gaivota
Aprendendo o vôo.
Pairar feliz sobre o mar,
atravessar nuvens às cegas,
mergulhar, reencontrar as águas.
Vencer a fome,
meditar sobre as rochas.
Adormecer ao sol.

Falcão
Dominando o céu.
Visão sagaz, vôo fatal.
Prazer das distâncias vencidas,
descobertas, amor à liberdade,
valor maior da minha vida.
Adormecer na tempestade.

Lince
Aprendendo a estepe.
Lutar, prevalecer, procriar,
caçar, alimentar, proteger,
guardar a planície árida,
brincar, liderar, ensinar.
Adormecer apenas,
no cansaço da missão.

Cavalo
Aprendendo a servir.
Combater, combater,
armaduras reluzentes,
sangrentas batalhas,
mortais duelos.
Sentir no coração
a justeza das causas.
Vencer quase todas.
Adormecer em luta.

Cão
Aprendendo o convívio.
Vagar, descobrir segredos,
sobreviver de restos,
conhecer a amizade,
ser fiel, defender.
Descansar à luz da lua,
às margens de um rio.
Adormecer de velhice,
sob o afago das crianças
das ruas.

Sapiens
Destilando essência.
Nascer entre músicos e poetas,
humildes almas trovadoras.
Correr mundo, muito cedo,
a buscar palavra e melodia
perfeitas.
Adormecer jovem,
sem encontrar.

Retornando e retornando.
Sublimar presságios e marcas imemoriais
de céus, mergulhos, reencontros e fome,
distâncias vencidas e descobertas,
amor à liberdade e tempestade,
cansaço da missão e coração,
duelos, batalhas e justeza,
humildade, segredos e amizade,
fidelidade e afago de crianças,
palavra e melodia imperfeitas.

Perseguir o tempo,
querendo ser músico, médico, escritor,
engenheiro, sonhador, ninguém.
Aprender a ser nada,
caminho do tudo.

Criar engenhos virtuais,
universos lógicos, nonsense,
transportando pensamento e alma
ao momento certo de finalmente
voltar e aportar.

29.07.2000

11 de maio de 2012

Delete! Exclua! (Rap)


Mentem, mentem, prá vender suas verdades.
Batem, batem. Seus valores? Que bobagem!
Forçam, forçam. Nas cartilhas? Sacanagem!
Mídia podre, vendida, banaliza atrocidades.
Maldades! Maldades! Maldades!

Seus valores nas mãos deles, não nas suas.
Delete! Exclua!

Gente séria, gente honesta? Que saudades!
Tudo certo, bem armado, premiando a safadeza.
Inteligência, competência? Aqui vale a esperteza!
Quer sucesso? Nessa idade? Sensualidade!
Covardes! Covardes! Covardes!

Seus princípios nas mãos deles, não nas suas.
Delete! Exclua!

Quem ensina vale pouco, sofre dor e violência.
Quem trambica se garante passaporte pra indecência.
Não se paga, não se cobra. Tenha a santa paciência!
Ninguém mede? Ninguém vê a conseqüência?
Demência! Demência! Demência!
Ah! Clemência!

Sua mente nas mãos deles, não nas suas.
Delete! Exclua!

Beba tudo, nesta farra, você bebe, eles dirigem.
Faça tudo o que te amarra. É o país do tudo-pode.
Se tiver quem limpe a barra, é o outro que se ...
Você curte o que eles querem, dominado na origem.
Impingem!  Impingem! Impingem!

Seus desejos nas mãos deles, não nas suas.
Delete! Exclua!

Coma isto, use aquilo, ganhe forma, perca peso.
Diga oi, seja vivo, seja claro, mas não muito.
Fale tudo, pague pouco, tanto faz o seu assunto.
Seja trend, siga a norma, não se faça de surpreso.
Desprezo! Desprezo! Desprezo!

Sua escolha nas mãos deles, não nas suas.
Seu dinheiro nas mãos deles, não nas suas.
Seus direitos nas mãos deles, não nas suas.
Sua vida nas mãos deles, não nas suas.
Delete! Exclua!

Mentem, mentem, prá vender suas verdades.
Batem, batem. Seus valores? Que bobagem!
Forçam, forçam. Nas cartilhas? Sacanagem!
Mídia podre, vendida, banaliza atrocidades.
Maldades! Maldades! Maldades!

janeiro/2012

4 de maio de 2012

Digo adeus aos meus mortos


Hoje, me despeço das lembranças metálicas,
pungentes, meticulosamente gravadas,
dos rancores, tristezas, ressentimentos.

Deixo no passado, abandonados,  
os cuidados, as atenções e os bens que não tive,
as crenças absolutas e os grandes embates inúteis,
as lutas vencidas e perdidas, por nada,
os perdões negados, as culpas e os culpados,
os sonhos e planos inconclusos
que cansei de perseguir.

Deixo ao destino as mensagens
feitas de mãos, coração e alma,
lançadas ao mar do tempo
que há milênios me traz o açoite das ondas
vazias de respostas, já desnecessárias.

Digo adeus aos meus mortos,
a todos os que dentro de mim aprisionei.

Dos seus corações retiro as adagas
das dores secretas, somente minhas.

Do meu feroz pensamento os liberto
para a paz que lhes tomei.

E retomo a caminhada,
com o peito vazio,
pleno de perdas e saudades.

05/2009 - 11/2011