Presente e tão
distante, na foto sobre a mesa,
solitária e resignada, eternizada
num final de tarde.
Ao fundo, um mar espelhado,
fugindo da areia,
perseguindo um pôr de sol outonal,
esmaecido.
Desse momento estático, de orfandade
da vida,
me chegam percepções de
teus pensamentos,
envoltos na atmosfera
enevoada, inescrutáveis
como teus grandes olhos
serenos, contemplativos.
Teu singelo veleiro a esperar,
confiante,
que o vento lhe revelasse rotas
e portos,
momento de enfunar as velas,
para abraçar o oceano do
tempo.
Ah, tanto naveguei,
atravessando dias, nuvens, e
tormentas que criei,
sem compreender o vento, as
rotas, os portos.
Já o sol outonal se foi, o
momento estático fluiu,
teu veleiro partiu, e ainda
nada sei.
(In Memoriam - Odette Cyrino - 26.out.1930 – 08.fev.2009)
17.05.2012