Pela palavra do
Impronunciável, ungida,
cheguei à mesa do grande
banquete.
Sentada à sua esquerda,
cotejei asseclas, insuflei hostes,
aliciei, traí, comprei, vendi, entreguei,
ameacei, cumpri, iludi,
ganhei.
Venci!
Em nada creio, não preciso
crer.
Sou a erva e o fruto do Mal
Encarnado.
Tudo posso, pelo amor ao
poder.
Meus mortos e mutilados mil
vezes matei,
espectros do passado, exorcizados,
perseguidores do pensamento,
reduzidos a nada.
Tão poucos ante os tantos
que haverei de fazer,
pelo plano da moral
infernal,
pela inversão dos valores,
pela crucificação dos santos,
pelas perdas insuspeitadas,
pela terra devastada,
pelo vilipêndio total,
pela dor do desalento.
Ah! Como farei!
Em nada creio, não preciso
crer.
Sou a erva e o fruto do Mal
Encarnado.
Tudo posso pelo amor ao
poder.
Sou névoa de estórias zelosas,
máscara, sorriso, vestes e
aura,
palavras poucas de mesura e
promessa,
dona da fé deste povo-instrumento,
apalermado,
ante os parvos idólatras da verdade,
humilhados.
Em nada creio, não preciso crer.
Sou a erva e o fruto do Mal
Encarnado.
Tudo posso, pelo amor ao
poder.
Aos fracos de coração e
pulso,
aos que subestimaram o
risco,
aos que ousaram me perdoar,
aos que não pude matar,
meu ódio essencial, banhado em mel,
minha dissimulada vingança de
fel,
meus cerrados dentes,
sorridentes,
meu olhar de aridez invasora
de almas,
minha ímpia maldade travestida.
Não importa o que disse, o
que terei de dizer.
Não importa o que fiz, o
que terei de fazer.
Em nada creio, não preciso
crer.
Sou a erva e o fruto do Mal
Encarnado.
Tudo posso, pelo amor ao
poder.
(Por
motivos óbvios, omitido o nome da personagem...)
Setembro/2009