Na tela, o papel em branco registra meu pensamento,
externado, martelado ao teclado, atropelando
os dedos.
Chips eletrônicos, mágicos trituradores
lógicos, insensíveis,
máquinas de mós de zeros e uns, de sins e
nãos, sem um talvez,
transformando palavras em impulsos elétricos,
óticos, digitais,
já sem o batimento de meu pulso.
Meu pensamento em grãos infinitesimais, aprisionado,
lançado às multivias da informação
onipresente,
disputando espaço, tempo, energia, direito
de existência,
em meio a bilhões de pensamentos
concorrentes,
triturados.
Maldosos, cruéis, delituosos, dissimulados,
transparentes, reveladores, dramáticos, banais,
compadecidos, caridosos, sarcásticos, debochados,
indignados, coléricos, conflituosos, pacificadores,
incômodos, inquietantes, apaziguadores, amorosos,
profanos, purificadores, construtivos,
destruidores,
enganadores, esclarecedores, crédulos, inocentes,
urgentes pensamentos
transitando por transmissores, canais, receptores,
servidores,
portais complacentes, filtros ingerentes, aduanas
onipotentes,
direcionados, desviados, postergados,
recebidos, rechaçados,
aceitos, bisbilhotados, espezinhados em um pinball
infernal
de circuitos do bem e do mal.
Meus grãos de pensamento infinitesimais,
finalmente levados ao destino,
recompostos em palavras,
com o batimento de meu pulso,
agora no papel da tela,
diante de alguém,
ou de ninguém.
07.12.2012