Mais a visão se aprofunda,
mais estrelas se percebem,
na escuridão...

22 de dezembro de 2012

Reiniciar


É madrugada, é tarde para tudo...

Caminhando pela calçada antiga,
pedras desenhadas, conhecidas,
mar silencioso, avenida de orla,
deserta.

Um banco tosco propõe descansar,
passar o tempo que já não apressa
este espectador em semi-presença.

Som distante, crescendo,
passos ritmados,
ameaçando meu silêncio.

Um vulto se aproximando,
alternando nítido e difuso,
sob a iluminação melancólica.

Jovem compenetrado,
andar acelerado,
rumo teleguiado.

Reconheço as feições, atitude altiva,
olhar determinado, aura transpirando
ideais, esperanças, planos, projetos,
angústias.

Ensaio um tímido gesto,
convite mudo à conversa.

Seu olhar polidamente recusa,
como tantas vezes recusei às visões,
em minhas madrugadas.

Vulto se distanciando,
alternando nítido e difuso,
sob a iluminação melancólica.

Ah, tanto lhe queria contar
do que sei e jamais aprendi,
das mil precauções a tomar,
de tudo o que todos querem,
dos caminhos e encruzilhadas,
de todas as portas abertas
às formas espertas de ser,
dos valores e conceitos inúteis,
das fúteis palavras soltas,
das mensagens que não chegarão,
das paredes de vidro do coração,
do cárcere das memórias,
passado a escrever histórias.

Silêncio envolvendo meus pensamentos.
Nada a ensinar a quem a essência jamais permitiu
crer sem compreender, desistir para não tentar,
querer sem perseverar, dizer sem acreditar,
transigir, esquecer, perdoar.

Reconhecido nesse passado,
não me reconheceu neste presente.

Aguardar o amanhecer,
única forma de reiniciar,
 pois é madrugada, é tarde para tudo.
  
17-19.12.2012