"Se a palavra calada é tua escrava, a
palavra dita é senhora tua."
(Provérbio árabe).
Palavras, entidades
arrogantes,
anseiam por autonomia, liberdade,
vida própria,
poder sobre quem as profere
e quem as recebe.
Maioria destruidora, surgem
e transitam livres,
sem crítica, reciclagem, filtragem,
questionamento.
Raramente se fazem ouvir na
mente e no coração,
antes de pronunciadas ou
escritas.
Proferidas,
não querem ser desmentidas,
reavaliadas, reformuladas.
Menos ainda, perdoadas.
Bloqueiam etilicamente a reconsideração,
e proclamam, solenes:
"Somos a verdade, e tudo
farás em nome disto,
acima de quaisquer efeitos."
Contestadas,
convocam suas pares especialistas,
estrategistas retóricas, conspiradoras,
planta-minas semânticas, traiçoeiras,
guerrilheiras mentirosas,
inconseqüentes,
evasivas cândidas, dissimuladas,
adjetivadoras debochadas, despistadoras,
ofensoras inescrupulosas,
exterminadoras,
abrindo caminhos para novos
e sedentos
regimentos de palavras
soltas.
Sitiadas por argumentos, fundamentos,
clareza de intenções e
significados,
enfiam-se em trincheiras de
autoindulgência,
constroem barricadas de autocomiseração,
inocentes vítimas da má
interpretação.
Silêncio...
na mente e na alma,
para que se percam ao
vento,
soltas como nasceram.
jan-mar.2013