Mais a visão se aprofunda,
mais estrelas se percebem,
na escuridão...

27 de julho de 2013

Três horas e cinquenta e sete minutos...


Nada apaziguou meu coração inconformado
por havê-la perdido,
por não tê-la trazido junto ao peito,
tantas vezes quantas devia,
tantas quantas hoje quero
e não posso mais.

Quantas madrugadas percorremos juntos,
eu perdido em reflexões, recorrentes,
ela adormecida em sua dor, serena.

Quantas vezes carinhei seu corpo frágil,
sem desviar pensamento,
sem perceber a verdade,
preciosos momentos se esvaindo,
ficando à margem do rio eterno.

Quantas vezes adormeci, incauto,
deixando o tempo tirano 
livre para tomá-la de mim.

Quantas caminhadas lentas, trôpegas,
meu coração e minhas mãos ampararam,
entristecidos por não saberem mais,
por não poderem mais...

Quantas orações interrompidas
pela lágrima temerosa afrontando a fé,   
antecipando a saudade.

Não preciso dizer seu nome.
Não precisa me ouvir dizê-lo.

Ainda, 
nada apaziguou meu coração inconformado.

28/05/2011 - 03:57am

21 de julho de 2013

Uma vela ainda acesa


Hoje, não pude acender mais uma vela para ti,
daquelas que se acendem diante de um relicário,
para criar momento de isolamento, paz e conexão.

Toquei em alguns pertences teus, queridos.
Estive nos teus lugares, agora tão modificados pelo tempo.
Percorri a tua rota metódica, sozinho,
projetando memórias da tua imagem sobre a grama.

Acariciei a tua ausência no vento,
sussurrei as tuas palavras preferidas, para ninguém,
e deixei as preocupações cotidianas
perturbarem e roubarem meus pensamentos.

Hoje, só pude orar para dentro de mim,
onde persiste a tua vela sempre acesa,
iluminando saudades em meu coração.

17.03.2009 (para Dóbi)

8 de julho de 2013

Réquiem


 Pelas memórias metálicas
pelas dores que te mostrei,
pelas tristezas que ocultei.

Pelos mil perdões que pedi,
mesmo quando não perdoei.
Por acreditar poder ser igual,
avatar para o mundo normal.

Pelas carniças mal enterradas,
pela pedra sobre o fosso fétido,
pelo coração que tudo guardou,
pelos farrapos mal remendados
desta alma que jamais se curou.

Pelos urros, teus vidros estilhaçados,
pelos murros, meus dedos quebrados,
pelas cicatrizes, meu peito rasgado,
pelas meretrizes, venenos instilados,
pelas partidas, meus rumos truncados.

Pela ruptura, ah, implacável fadiga,
por tudo o que em pó transformei,
pela súbita morte em vida, tentei,
de um eu que morreu sem guarida.

Pelo conforto que não te dei,
pela dedicação que reconheci,
pelo bem que não preservei,
pelo mal que não suportei,
pelo esvair de forças, desistir,
pelas palavras que refutei,
pelas respostas que implorei,
por roubar e perder a paz,
pelo tanto saber ser mais,
sem conseguir fazer-me ver.

Pelas perdas que te causei,
pela vida que te tomei, enfim,
por levar o que nem sei bem
se ainda restou de mim...

junho - julho, 2013