Mais a visão se aprofunda,
mais estrelas se percebem,
na escuridão...

25 de agosto de 2013

Perdoa


Tantos nomes imaginados,
um nome escolhido,
jamais pronunciado.

Não vi teus primeiros passos,
não acalmei o teu choro,
nem ouvi a tua primeira palavra.

Não brincamos juntos,
não corri com você nos ombros,
não te ensinei a nadar,
nem a andar de bicicleta.

Não consertei tuas bonecas,
não te dei um cãozinho,
nem construí brinquedos incríveis
para te maravilhar.

Não curei teus machucados,
não acariciei teus cabelos,
nem te aqueci em meu abraço.

Não atravessei noites acordado,
preocupado com a tua febre.

Não deixei jamais de ser adulto,
para rirmos juntos, infantilmente,
por quaisquer besteiras.

Não tivemos longas conversas
sobre princípios, bondade, compaixão.

Não discutimos nossos valores e sentimentos,
até descobrirmos serem diferentes, 
porém iguais na essência.

Não acompanhei teus estudos,
tua escolha de carreira,
nem fui à entrega do teu diploma,
para te abraçar com orgulho incontido.

Não te serenizei, depois das brigas com namorados,
nem opinei sobre aquele com quem casarias.

Perdi o teu casamento,
o nascimento e os aniversários do teu filho,
os presentes e o carinho que daria ao meu neto.

Perdoa, filha,
por não haveres nascido...

(escrito há muito, muito tempo...)