Mais a visão se aprofunda,
mais estrelas se percebem,
na escuridão...

30 de dezembro de 2013

Hoje não há versos


Porque a vida tem-se mostrado
em reversos.

Porque o amor
de sempre e per sempre,
mesmo agredido, humilhado,
renunciou sem abandonar jamais,
fitou meus anjos e demônios,
aterrorizou-se, quase morreu,
dialogou com eles, compreendeu,
não proferiu palavras cruéis,
reconheceu surtos e sombras,
desatou-me as pulseiras gêmeas,
estancou momento final,
serenizou, reunificou meu ser,
curou-me as farpas cravadas na alma
e as marcas de treze brasas.  
Décimo terceiro ano, 
aprendizado, superação.

Hoje não há versos,
mas houve ansiolítico, antidepressivo,
sono restaurador, longos diálogos, 
respeito, cuidado, atenção.

Não há sequer um simples verso,
mas houve igreja aberta, oração,
houve Jesus, com quem converso,
houve missa, houve sessão,
houve águas energizadas,
houve mergulhos no mar e caminhadas,
houve serenidade em meu coração,
aplacando dor sofrida e causada,
acalmando tristeza ancestral,
aquela parte de mim,
sem início, sem fim.

Hoje,
não apenas gratidão,
mas clarividência,
amor e paz.

(Dedicado à minha esposa, Jussára)

setembro - dezembro, 2013

18 de dezembro de 2013

Cães do carroceiro


Homem e carroça.
No lixo, a vida, reciclável.
Cansaço, desalento, persistência.
Não existe a opção de morte.

Cães seguindo dono,
lentamente, cabisbaixos.

Companhia, proteção, reciprocidade,
em suas esqueléticas fragilidades,
compartilhando água, refeições,
abrigos, descansos, corações,
alguns farrapos, muitas feridas,
sem maldizer tantas iniqüidades,
há somente o hoje em suas vidas.

Em seus olhos, as dores caladas
dos destinos selados pela invisibilidade
aos olhares urbanos apressados.

Em seus passos, o rumo sempre incerto
pelas ruas da fé, ruas da sorte
que haverá de estar em cada lixo aberto,
pois não existe a opção de morte.

dezembro.2013

12 de dezembro de 2013

Cão de guerra


Aglomerados de Hércules, de Centauro, de Virgem.
distâncias infindas, vazios aterradores,
filamentos galácticos.
Andrômeda... Via Láctea.
Do centro devorador à espiral,
Braço de Perseus... Braço de Órion.
Estrela inexpressiva, terceiro planeta.

Ser novamente desperto,
perdido em memórias de incontáveis estadas,
vivendo, avançando, rechaçando imposições,
contrariando opiniões, conselhos,
traçando seus próprios mapas, roteiros,
percorrendo suas estradas, ruas,
praças, esquinas, encruzilhadas,
compreendendo suas realidades nuas,
semeando aprimoramento,
colhendo paz e batalhas.

Confiante, incauto, crédulo.
Planos, projetos, promessas,
metas atingidas, metas abandonadas.
Reinvenção, transmutação, resiliência,
persistindo no tempo vil, inclemente.

Tanto labor e luta,
tantos erros e acertos,
vida ganha, vida perdida,
nem sei em que medida.

Confiável, inconfidente,
construtor, destruidor, criatura, criador,
etéreo, material, alma, ânima imortal.

Aparelho-dádiva, recebido perfeito.
Animal mortal, imerso na fatalidade
de seus desertos, espinheiros, rios, rochas.

Indeléveis, ineficazes,
três pulseiras gêmeas gravadas em cada pulso,
treze brasas cravadas no punho esquerdo.
Décimo terceiro ano de mais um milênio
que haverá de passar, como tantos outros.
Memórias de aprendizado de mágoas e perdões,
de reconstrução pelo amor.

Quimicamente exorcizado,
espiritualmente serenizado,
regenerando mente, visão, equilíbrio,
doloridos nervos, músculos e ossos,
prosseguindo incoercível,
para além dos desertos, espinheiros, rios, rochas,
por sobre o que mais me trouxer a vida,
deste ou de quaisquer planos,
até o momento de novamente adormecer
este meu furioso ser, cão de guerra.

novembro - dezembro, 2013