Caminhei lentamente,
por entre árvores
e pela madrugada de uma praça,
vislumbrando espectros e devas.
Em pensamento,
lhes perguntei tantas coisas...
Por que ser assim?
Como deixar de ser quem sou?
Sem respostas,
suas faces tristes não me
encaravam.
Mas, meu peito queria saber, queria
saber!
Como a indagar também,
voltaram-se para o céu, apontando
com as mãos abertas,
convidando-me a enxergar algo
inexpugnável para mim,
e desapareceram como névoa que
se desfaz.
Veio até mim o velho e amigo cão
amarelo.
Encostou sua cabeça em minha mão
direita,
fitando-me com seus grandes olhos,
como a dizer que também os
vira.
Cães tudo vêem.
Cães sempre me compreenderam.
Prossegui pela ruela escura, quase
coberta pelo mato,
jogando alimentos aos pássaros
que não estavam lá.
Conversei com uma boa e doce
alma,
mal ouvindo suas palavras
sobre assuntos leves.
Percebeu meus olhos marejados,
despediu-se logo de mim.
Cão amarelo descendo comigo, até
o portão,
comovendo-me o esforço de sua
breve companhia,
antevendo seu caminhar, praça
acima,
já difícil sob o peso da idade.
Permanecemos na calçada por um
tempo,
eu e o cão, estáticos,
sem vislumbres, sem ninguém para
nos falar
dos motivos, dos mistérios, do
nonsense,
e da efemeridade da vida.
(In
memoriam - Nino, o cão amarelo, faleceu na madrugada de 23.10.2013)