Mais a visão se aprofunda,
mais estrelas se percebem,
na escuridão...

5 de janeiro de 2014

Meio de madrugada (vislumbres)


Caminhei lentamente,
por entre árvores
e pela madrugada de uma praça,
vislumbrando espectros e devas.

Em pensamento,
lhes perguntei tantas coisas...
Por que ser assim?
Como deixar de ser quem sou?

Sem respostas,
suas faces tristes não me encaravam.
Mas, meu peito queria saber, queria saber!

Como a indagar também,
voltaram-se para o céu, apontando com as mãos abertas,
convidando-me a enxergar algo inexpugnável para mim,
e desapareceram como névoa que se desfaz.

Veio até mim o velho e amigo cão amarelo.
Encostou sua cabeça em minha mão direita,
fitando-me com seus grandes olhos,
como a dizer que também os vira.
Cães tudo vêem.
Cães sempre me compreenderam.

Prossegui pela ruela escura, quase coberta pelo mato,
jogando alimentos aos pássaros que não estavam lá.

Conversei com uma boa e doce alma,
mal ouvindo suas palavras sobre assuntos leves.
Percebeu meus olhos marejados,
despediu-se logo de mim.

Cão amarelo descendo comigo, até o portão,
comovendo-me o esforço de sua breve companhia,
antevendo seu caminhar, praça acima,
já difícil sob o peso da idade.

Permanecemos na calçada por um tempo,
eu e o cão, estáticos,
sem vislumbres, sem ninguém para nos falar
dos motivos, dos mistérios, do nonsense,
e da efemeridade da vida.

(In memoriam - Nino, o cão amarelo, faleceu na madrugada de 23.10.2013)

janeiro 2013 - dezembro 2013
©Alfredo Cyrino / Indigo Virgo®