Primeiro dia do ano.
Manhã chuvosa.
Levo a Vivi e o Tuco ao
jardim.
Cumprem a sua rotina matinal,
fitando as nuvens, sonolentos,
parecendo procurar o sol que
não está.
Agem de modo diferente dos
outros dias.
Continuam olhando em torno, como
que indagando.
Sentam-se à minha frente, com
olhos telepáticos
que me trazem de pronto a
ausência do Tico e da Kate.
Por alguns instantes, converso
com eles,
sem palavras, represando
tristeza e saudades,
apenas pensando no que talvez
já saibam,
e, talvez, para que saibam que
eu sei.
Digo-lhes que passagens de ano
não têm significado para a
vida além do tempo,
não fecham ou abrem portas no
nosso tempo,
não deixam para trás aqueles
com quem partilhamos vida terrena,
não apagam as marcas, as
características, os ensinamentos
gravados em nós pelos que
partiram.
Permanecemos em silêncio, ouvindo
a chuva,
comungando da mesma, imensa,
alma canina.
03 jan 2012 - 06h53m
©Alfredo
Cyrino / Indigo Virgo®