À noite, nos libertamos
e agimos sós,
um só, vivos.
Dominamos
cada momento e, extasiados,
podemos
estender os braços e colher estrelas,
ou um punhado
de areia, vivo.
Somos donos
de um pedaço do universo,
dele todo, ou
de nada.
Força pulsante,
chama e oceano, nós.
Percorremos as
assembléias dos homens
e derramamos a
paz nos ambientes.
Corrigimos enganos da existência
e consertamos seres
maltratados, adormecidos.
Sabemos o
amor
e os breves
toques de lábios nas faces, à noite.
Arrancamos
das frestas escuras a felicidade,
para forjá-la
e realizá-la a sós,
com desespero
de poetas.
Geramos
idéias e soluções,
imploramos ao
trigo que cresça,
construímos
ferramentas que as mãos do homem
haverão de marcar
pelo uso.
Somente
durante a noite,
rasgamos a
solidão do convívio geral
e bastamos um
ao outro,
preparando a
mística da vida iminente.
E, quando o
dia ameaça despertar o mundo inerte,
conseguimos
ainda correr ao lado das ondas
e devolver as
últimas estrelas, do peito para o céu,
antes de retornarmos
aos dois corpos
que descansam
abraçados.
(para Jussára)
década de 80