Caminhando pelo corredor
externo da casa, quase madrugada.
Luzes apagadas, lua brilhando
muito forte.
Há algo pequeno e brilhante
no chão, um reflexo furta-cor, junto à parede. Não identifico bem a sua forma.
Mais próximo, vejo uma libélula,
imóvel.
Aparenta estar perfeita.
Seus olhos enormes parecem
fitar a lua.
Não pode estar morta.
Contemplo aquele ser perfeito,
com a ilusão de que subitamente
irá voar para longe.
Nada acontece...
Por que esse
parar de vida solitário,
esse momento
final, chegado como inesperado adormecer?
Coloco-a cuidadosamente
sobre a palma da mão e a conduzo ao jardim,
onde a deixo
"pousada" sob as plantas de uma jardineira,
para que se cumpra o seu
regresso à Mãe Natureza.
Asas de estrutura admirável,
que riscaram o ar milhares
de vezes,
sobrevivendo a chuvas e
ventos,
levando beleza e energia
exuberantes a lugares inexpugnáveis,
agora irremediavelmente
quietas, diluindo-se no tempo.
O que vieram me dizer?
Evento: 27.04.2002
Texto: agosto.2019