Naquele tempo...
As comunicações transitavam por labirintos de
linhas telefônicas, extensões, ramais, troncos-chave.
Na empresa, as chamadas eram recebidas por
uma mesa de PBX.
A telefonista as transferia para a secretária
que, devidamente orientada, "filtrava" aquelas que eu não gostaria de
atender.
Os problemas a resolver chegavam
continuamente à minha "caixa de entrada" e era necessário entregar
soluções em minha "caixa de saída".
Nas reuniões, um sofrimento, era direito de
qualquer participante ter a certeza de estar sendo ouvido e compreendido.
Quase insuportáveis o tempo e a atenção
despendidos em leitura, escrita, telefonemas, contatos presenciais.
Sentia-me oprimido por aquilo tudo.
Com a chegada dos celulares...
As pessoas ganharam acesso direto, umas às
outras.
Em vez de escrever, muitas já preferiam "economizar
tempo" resolvendo assuntos diretamente por telefone, o que me dispensava da
tarefa de leitura e lhes dava a vantagem de não deixar registrada alguma assertiva,
talvez mal formulada, que quisessem desdizer posteriormente.
E o serviço de SMS, embora mais imediatista,
não demandava respostas muito elaboradas.
Passei a poder me desconcentrar durante as reuniões,
a pretexto de atender a chamadas de celular.
Havia, sim, os intransigentes, como certo
consultor de TI, sujeito irascível, que chegou a se retirar de reuniões, apenas
porque eu atendia a algumas chamadas demoradas.
Com a chegada da Internet...
O serviço de emails permitia postergar
leituras e respostas "mais complicadas".
Finalmente...
Vieram os smartphones, com os seus
aplicativos de comunicação, Internet, redes sociais e tudo o mais.
Essas tecnologias me libertaram.
Ninguém mais exige, ou faz por merecer, atenção exclusiva.
Agora, sou capaz de conversar com uma ou
mais pessoas, presencialmente ou por telefone, enquanto
troco mensagens pelo WhatsApp, acompanho as redes sociais, leio notícias etc.
Ademais, posso separar "para ler depois" (ou "deixar
pra lá", por decurso de prazo) tudo o que possa exigir maior empenho
mental ou emocional, esperando que as pessoas, por consideração ou
esquecimento, acabem nem me cobrando as respostas.
Dispersivo?
Displicente?
Negligente?
Autocêntrico?
Pouco importa.
Hoje, sou uma pessoa feliz!
Tema: Novembro 2018 - Texto: Julho 2019