Ah! Aqueles comerciais...
Certamente respaldados por especialistas em
neurolinguística, efeitos especiais, computação gráfica etc.
Estimulando o consumo, pela visão de pessoas:
· Exibindo expressões alegremente
aparvalhadas.
· Atuando de forma pretensamente
sensual.
· Dizendo coisas supostamente
inteligentes.
· Imersas em cenários por
vezes nonsense, eventualmente fazendo coisas "sofisticadas",
"espertas", mirabolantes, idiotas, ou também nonsense.
· Movimentando-se de maneiras
inusitadas, simulacros de transtornos obsessivo-compulsivos, polineurites e
ataxias de diversos graus.
Fidelizando "clientes", sob os bate-estacas
de expressões pseudointeligentes, autoelogiosas, autoindulgentes, sugestivas, convidativas.
Esperando que você se torne dependente de
álcool, mas dizendo escrupulosamente:
· Beba com moderação.
· Aprecie com moderação.
· Beba com sabedoria.
Devem estar certos os criadores dessa ciência dedicada
a entorpecer multidões:
· A julgar pelos onipresentes
e privilegiados pontos de exibição desses produtos, em todos os estabelecimentos
em que a sua venda seja (ou não) permitida.
· A julgar pelos carrinhos de
supermercados, usualmente acomodando bebidas de variados tipos, ou, principalmente,
lotados de feixes de latas de cerveja, amiúde acompanhados por mastodônticas peças
de carne, pacotes de sal grosso e de carvão, sob os olhos ansiosos, sedentos e
famintos de seus compradores.
Então, não deixe de se enturmar...
Sinta-se mais leve, mais alegre, mais
desinibido.
Deixe de ser o "você real".
Torne-se "outro", um você em
estado alterado.
Afinal, coração, alma, capacidades e
sentidos perfeitos, recebidos de Deus, não lhe bastam para atingir leveza,
alegria e desinibição espontâneas.
Convide amigos para visitá-lo.
Permita-lhes trazer as suas próprias
bebidas.
Convide-se para visitá-los.
Leve as suas próprias bebidas.
Confraternizem, até que visitantes e
visitados deixem de ser quem eram quando decidiram se encontrar, redundando naquele
lastimável conclave de "outros" em estados alterados, sem conversas
seqüentes, das quais sequer se lembrariam no dia seguinte, caso ocorressem.
Pouco importam a memória prejudicada, as
deficiências cognitivas e limitações físicas que se acumulam inexoravelmente.
Pouco importam os "chatos" que se
afastam gradualmente, por não suportarem despender vida, tempo e neurônios, em atividades
e falatórios sem conteúdo.
Importa, sim, a expectativa pelos eventos
das próximas semanas.
Se possível, mais de um evento por semana.
Você quer isto para si mesmo?
Você quer isto para si mesmo?
Bebedores contumazes...
· Jamais admitem a dependência
química, pois todos acreditam "beber apenas socialmente".
· Geralmente, talvez inconscientemente,
sentem-se incomodados, ou mesmo inferiorizados, em face da inteireza
de pessoas responsavelmente sóbrias, estigmatizando-as, segregando-as, agindo
subliminarmente para convencê-las de que "precisam" aderir aos
hábitos da confraria, para serem aceitas como "pessoas normais".
· Terminam por estabelecer
vínculos mais amistosos e numerosos com outros bebedores contumazes, em
detrimento até dos vínculos com familiares avessos à confraria.
· Depreciam a própria imagem
nas redes sociais, "curtindo" e compartilhando apologias e escárnios alusivos
ao consumo de álcool.
· Subestimam os seus
interlocutores, ao considerá-los incapazes de perceber as suas frágeis
tentativas de disfarçar e corrigir lapsos, irritando aqueles que esperavam
interagir com alguém em estado normal.
· Repetem ad nauseam estórias
e "causos" já contados inúmeras vezes às mesmas pessoas.
· Ao se desinibirem etilicamente,
podem vir a manifestar facetas socialmente inibidas de suas personalidades,
mostrando-se insensíveis, debochados, desrespeitosos, grosseiros,
encrenqueiros, agressivos, inconseqüentes.
· Via de regra, perturbam a
paz dos seus vizinhos.
· Tornam-se objetos de
chacota para aqueles que fingem lhes dedicar apreço, e também presas fáceis
para aproveitadores.
· Sempre supõem "estar
bem" para realizar quaisquer atividades, mesmo aquelas que possam causar
danos a si mesmos e a outros seres vivos.
· Infelizmente, contam com a complacência
calhorda, ainda prevalente nos âmbitos social e jurídico.
Este texto...
Encerra a esperança de suscitar alguma
reflexão séria.
Não foi escrito com a intenção de agradar.
Janeiro - Setembro 2019