Mais a visão se aprofunda,
mais estrelas se percebem,
na escuridão...

7 de abril de 2023

Crônica inútil sobre Algoritmos da Vergonha

WhatsApp, Facebook, Instagram, Twitter, TikTok, Metaverse
e o que mais surgir.

Alexas, Siris, Cortanas, prontos a ouvir, bisbilhotar, palpitar.
Conversadoras inteligências artificiais,  
prontas a sondar pensamentos e inteligências reais.
 
Usar, confiar, seguir, participar, interagir, portar, apresentar...
CNH, CRLV, IPVA, CPF, RG, CREA, Diploma, Título de Eleitor,
certidões de nascimento, batismo, casamento,
atestados de antecedentes, vacinação, sanidade mental,
contas bancárias, chaves PIX, cartões de débito e crédito,
tudo virtualizado num smartphone.

Tive de viver, estudar, aprender e ensinar tanto,
para, um dia, me decepcionar,
não com as tecnologias,
mas com os seus detentores.

Impossível expressar indulgência.
Inútil discorrer sobre os milhares de shaming algorithms.

Suas entranhas, permeadas de bizarrice, desonestidade,
tendenciosidade, arrogância, invasividade,   
dedicadas a "conhecer plenamente" cada indivíduo.

Atributos pessoais ardilosamente coletados, analisados, classificados,
na composição de estereótipos perenes
de cada ser humano assim "deglutido".

Identidade, idade, gênero, estado de saúde,
localização, parentescos, amizades reais e virtuais,
nível cultural, atividades de lazer e profissionais,
rendimentos, posses, dívidas, créditos,
crenças, opiniões, hábitos na Internet,
incluindo quaisquer preferências, aversões,
compulsões, adicções, recônditas ou não.

Despudoradas demonstrações de o quanto "conhecem" cada ser real.

Direcionamento massivo de informações, opiniões, sugestões
especificamente selecionadas para evocar reações
em cada grupo de seres-estereótipos catalogados,
realimentando continuamente os processos de maximizar
visualizações, envolvimentos, receitas, lucros, poderes.

Cortiçosferas globais astutamente concebidas e estabelecidas.

Redes de interações efêmeras, vazias,
proporcionando sensações gratificantes
de pertencimento, aprovação, aceitação,
confiança ingênua em meta-ambientes volúveis.

Palavras incontidas, discordantes, mal expressas?
Ao linchamento virtual por contrariar "alguma coisa"
que a infeliz criatura nem sabia existir.
E mais dopamina para legiões de lacradores(as).

Inútil falar dos megalômanos hardwares, softwares, redes neurais e que tais, engajados nessa empreitada global.

Suas inteligências artificiais quase sencientes,
entidades semi-autogênicas, talvez já psicóticas,
extenuadas pela imersão em machine learning,
deep learning, natural language processing.

Inútil...
De que valeria a visão de alguém que apenas criou e implementou
milhões de linhas de código-fonte, em incontáveis linguagens legadas e atuais?

Quero rede social única, mundo real, presencial.

Dispositivos computacionais ao meu dispor e não o contrário.
Conhecimento tecnológico pleno, para o meu beneficio.

Vida ótima para ser vivida,
não exibida, monitorada, rastreada,
controlada, manipulada, invadida, vendida.

Compreendo que poucos seres reais
suportariam tal privação de uma vida virtual.

Isto é para desatualizados estóicos.

maio.2022 – abril.2023
©Alfredo Cyrino / Indigo Virgo®


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